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O exercício da liderança é legitimo e necessário nas mais diversas categorias de instituições e organizações que pretendem ser bem sucedidas, isso inclui a igreja. Mais do que qualquer instituição a igreja como instituição de natureza espiritual deve ser orientada por líderes que evidenciem, sobretudo saúde integral.

Olhando numa perspectiva psicológica não podemos deixar de observar a relação existente entre liderança e narcisismo. A eficácia ou ineficácia da liderança se explica pelas disposições narcisistas do líder. Diz a lenda que Narciso, egoísta e orgulhoso, enquanto caminhava pelos jardins de Eco, descobriu a lagoa de Eco e viu seu reflexo na água e apaixonou-se por si próprio. É daí que vem o termo “narcisismo”. O narcisismo é muitas vezes a força condutora alimentando o desejo de obter um cargo de liderança. Se isso não for discernido, pode muitas vezes aparecer em termos aparentemente espiritualizados do tipo: “fui chamado”; “fui ungido”; “escolhido por Deus” e outros termos parecidos sem necessariamente ser isso real ou verdadeiro.
Personalidades narcisistas são freqüentemente motivadas por necessidades intensas de poder e de prestigio a assumir cargos de liderança.
Existem diferentes tipos de lideres narcisistas e que podem ser identificados pelas seguintes características:

 

  • 1. Líder reativo.

O líder reativo é extremamente exigente. Sua grandiosidade e seu exibicionismo fazem-no procurar liderados bajuladores. Os argumentos dos outros são ignorados especialmente quando  são contrários aos argumentos do líder. Os narcisistas reativos toleram apenas os liderados cheios de solicitude; os outros são evacuados; no afã de avançar, o líder não se importa em ferir e explorar os outros. Os liderados atuam diplomaticamente a fim de sobreviver. O líder reativo é desprovido de empatia; ignora completamente a necessidade dos seus liderados, bem como de seus pares, reservando sua atenção exclusivamente a seus interesses. Os projetos que necessitam de um trabalho em equipe ou da iniciativa dos liderados ficam seriamente ameaçados. Esse tipo de líder crê que pode manipular seu meio ambiente e agir sobre ele de tal maneira que não o precisa examinar atentamente. O meio ambiente está “abaixo” dele e não constitui um desafio sério. Sua grandiosidade, seu exibicionismo , sua preocupação com seus fantasmas de sucesso ilimitado faz o líder narcisista reativo empreender projetos extremamente audaciosos. Ele deseja chamar atenção, demonstrar seu domínio, sua inteligência superior. Esse líder não escuta conselheiros, nem seus pares, nem seus liderados. Considera-se a única pessoa suficientemente informada para julgar. Quando as coisas não dão certo, sua tendência é culpar os outros. Ele não se considera jamais responsável pelo que quer que seja negativo. Lideres assim são capazes de despertar emoções primitivas naqueles que os seguem. Alguns têm o poder de provocar um comportamento regressivo nos seus liderados. Exploram os sentimentos inconscientes de seus liderados;  Os líderes que são chamados às vezes de “carismáticos” são mestre na arte de manipular certos símbolos. Os liderados, quando estão sob o “charme” desses líderes , sentem-se, muitas vezes fortes e orgulhosos, ou então impotentes e profundamente dependentes.
Chama-se reativo por se tratar de uma atitude ou reação compensatória em relação às necessidades emocionais da infância que não foram satisfatoriamente atendidas e que prevalecem e persistem  durante a  vida adulta.

 

  • 2. Líder auto-ilusório

Esse tipo de líder é muito parecido com o líder descrito anteriormente, porém com traços menos evidentes em situação de liderança.
Esse tipo de líder apresenta uma grande insegurança e uma profunda necessidade de ser amado. Precisa de uma cargo de liderança para sentir-se  importante e necessário.
Esse líder é mais tolerante às opiniões divergentes; parece reagir com  simpatia quando tais opiniões são expressas.  Mas tende a dar oportunidade a liderados tido como mais “fracos” ao invés de seus pares que sejam mais ativos e competentes. O líder auto-ilusório mostrará interesse pelas preocupações de seus liderados; essa atitude decorrerá, entretanto, mais do desejo de parecer simpático que de um verdadeiro interesse. Fará tudo para que seu liderado se vincule a ele para levá-lo a satisfazer sua própria imagem. Não espanta a constatação de que esse tesouro de liderado, geralmente “fraco”, idolatra seu líder. Toda iniciativa pessoal será considerada traição. O líder auto-ilusório sente grande ansiedade na tomada de decisões. Ele quer fazer o melhor trabalho possível, assim será admirado e respeitado, mas coloca em dúvida sua capacidade de fazê-lo. Teme o fracasso. Isso o torna muito mais conservador que o líder narcisista reativo.
Naturalmente os líderes conservadores são mais escutados que os aventureiros. Ele tem a tendência de fazer as coisas se arrastarem por um longo tempo; sua hesitação pode resultar numa estagnação organizacional. É preciso notar que o líder reativo trabalha para impressionar a platéia, para ser venerado, para realizar sonhos audaciosos e impossíveis. O líder auto-ilusório deseja apenas, ser amado e admirado pelos que estão ao seu redor.
Chama-se auto-ilusório pelo fato de ter uma auto-imagem engrandecida decorrente de um ego superestimulado na infância por pais ou cuidadores que  o sobrecarregaram de expectativas irrealistas ou seja, ilusórias.

 

  • 3. O líder construtivo.

Esse tipo de líder tem um alto grau de confiança, é bastante orientado em direção ao trabalho e aos objetivos a alcançar. O líder construtivo têm uma visão realista de suas capacidades e de seus limites. Ele tem uma atitude de partilhamento e reconhece a competência dos outros. O líder construtivo escuta e aprecia as opiniões dos liderados, ficando feliz, porém em assumir a responsabilidade das ações coletivas.  O líder construtivo tem uma capacidade de inspirar os outros e de criar uma causa comum, transcendendo os interesses pessoais.  O que importa para esse líder é o bem da instituição e das pessoas. O líder construtivo é criativo e visionário e capaz de engajar os liderados no empreendimento  dos projetos. O estilo de tomada de decisão do líder construtivo é mais reflexo da realidade da instituição e do contexto do que do capricho do líder. A flexibilidade do líder construtivo dá-lhe a possibilidade de efetuar uma boa dose de análise, de exame do meio ambiente e de consulta antes da tomada de decisões importantes. Esse líder evita os extremos, a audácia ou o conservadorismo, agindo mais dentro de um registro médio.
O líder construtivo não age de maneira reativa ou auto-ilusória. Ele não experimenta a necessidade de deformar a realidade para lidar com as frustrações da vida.  Esse líder internalizou objetos estáveis (conjunto de percepções, pensamentos, idéias)  que servem de amparo diante da adversidade.  Ele está em condição de exprimir seus desejos e assumir suas ações, sem levar em conta as reações dos outros. Quando se decepciona, não age por despeito, mas é capaz de se engajar em uma ação reparadora. Esse tipo de líder tem a paciência de esperar, de buscar o momento em que os outros terão necessidade de seus talentos. A habilidade, a introspecção e a consideração são características freqüentes dele.

 

É importante estar atento aos sinais de narcisismo na liderança eclesiástica em quaisquer que sejam os níveis.  O tipo de comportamento encontrado em um líder refletirá a natureza e o grau de suas tendências narcisistas.
Como lideres espirituais convêm que identifiquemos com clareza que tipo de líder somos ou que traços de cada tipo podemos ainda  apresentar. Que sejamos modelados por Deus e contados entre aqueles que são lideres construtivos para edificação da igreja de Cristo.
Quanto ao Narciso da lenda apaixonando-se profundamente por si próprio, inclinou-se cada vez mais para o seu reflexo na água, acabando por cair na lagoa e se afogar. Não precisa de muita interpretação para saber qual é o fim desse tipo líder dentro de uma instituição.

 

…Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho.  Ora, logo que o Supremo pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória. IPd.5:2-4